Por Fabio Poli, PY2LY
Inspirado na publicação do QTC ECRA sobre um contato de mais de 700km em 432MHz entre as ilhas de Porto Rico e Curaçao no Caribe, usando o Dstar (link da matéria no final, para quem não leu) e aproveitando essa época oportuna para DX nas bandas altas, vamos aproveitar para buscar DX em Digital Voice, DSTAR, C4FM e DMR. A ideia aqui é comentar umas condições interessantes de propagação em VHF e UHF variando conforme regiões e latitudes, com o desafio de fechar os contatos em DMR ou C4FM ou Dstar.
O O DMR e C4FM se baseiam num Vocoder moderno de Voz em 4FSK com avançado sistema de correção de erro, o que permite conseguir contatos iguais ou melhores do que seria em FM, favorerecendo ainda mais um contato direto a longa distância. A razão, bem simples, é o tipo de modulação e os circuitos de codificação-decodificação mais eficazes que nossos ouvidos.
Mesmo com 5W conectado a um bom sistema irradiante é possível um contato de centenas de km rádio a rádio, sendo um feito mais recorrente do que podemos imaginar. Há aberturas tradicionais e frequentes como contatos entre São Paulo e o Sul.
Existem alguns modos de propagação VHF e UHF que favorecem o DX. U m deles é a Trans-equatorial que permite DX de mais de 5 mil Km e que deve ter sido o fenômeno que possibilitou esse contato na América Central. A mais comum para DX no Brasil é Troposférica por INVERSÃO TÉRMICA, que é recorrente por todo globo.
Um modo simples de detectar essas aberturas é escanear todos os canais de Repetidores tanto em analógico como em DV, de preferencia entre as 20hs até umas 9hs do dia seguinte, quando poderá receber repetidores VHF e UHF de outros Estados e assim combinar contatos ponto a ponto em FM, SSB e Digital Voice.
O QUE É A INVERSÃO TÉRMICA?
O normal na Troposfera é que a camada de ar quente fique embaixo devido ao aquecimento do solo pelo sol durante o dia, acumulando essa massa de ar na parte baixa. À medida que nos afastamos do solo em altura, a temperatura vai caindo, até uns 12km.
A inversão térmica é quando esse ar quente menos denso sobe e o ar frio desce ao solo, formando uma camada de ar quente menos denso entre duas camadas frias, o que costuma ocorrer no início da madrugada até as primeiras horas da manhã, às vezes permanecendo por dias, principalmente no inverno.
Sabe quando estamos na estrada sob forte calor e vemos longe o asfalto espelhado como água, ou as famosas miragens no deserto? Isso acontece porque o ar rente ao asfalto fica extremamente quente e pouco denso, o que faz com que ele acabe espelhando o céu. Em VHF e UHF o efeito é o mesmo quando ocorre inversão térmica, só que imaginando o plano invertido com ar menos denso em cima formando um duto de visada entre as camadas frias.
Esse duto por vezes faz o sinal navegar com a eficiência de uma visada direta, possibilitando acionar Repetidores distantes até de HT com a própria antena principalmente em UHF e contatos ponto a ponto de centenas ou milhares de KM, similar aos contatos espaciais de centenas de quilômetros com miliwatts.
Uma abertura muito comum é entre SP e Paraná, por vezes se estendendo a Sta. Catarina ou Rio Gde do Sul, no caso pelo efeito de inversão térmica que também ocorre em várias partes do Brasil principalmente quando há deslocamentos de massas de ar polar ou frio.
Um fenômeno interessante é que, sempre que SP consegue contato com o sul, podemos prever que logo chegará uma massa de ar frio proveniente do sul baixando a temperatura em SP. Outro fato é que a camada de AR Frio que desce costuma trazer junto a poluição, sendo também um indicador desse fenômeno. Enfim, se a previsão do tempo indicar que entrará uma massa de ar frio, se preparem para conseguir um contato especial.
No DMR muitos países têm adotado as frequências de 145.510, 145.790 e 433.450 MHz, Color Code 1 e TG99 para chamados rádio a rádio. A vantagem de um padrão internacional é de facilitar inclusive contato com países vizinhos sendo recomendado adotarmos esses parâmetros no Brasil. Para contatos do dia a dia podemos usar qualquer frequência conforme o Ato 9106/2018 da ANATEL.
No C4FM System Fusion encontrei algo citando 147.525 e 146.780, nada sobre UHF. Essas acabam conflitando e se vale uma sugestão poderiam ser usadas 145.530 e 433.470, mas fica a decisão a cargo dos utilizadores. O mesmo ocorre ao Dstar que pela falta de definição poderiam ser definidas 145.550 e 433.490, assim ficam faceis de conciliar entre os modos.
A experimentação, o aprendizado e os desafios fazem parte do radioamadorismo. Que tal aproveitarmos essa época do ano propícia a propagação em VHF, e principalmente em UHF, para fazer história registrando contatos DX rádio a rádio em Digital Voice?
Forte 73 de Fabio Poli PY2LY
LINKS INTERESSANTES:
- Matéria do QTC ECRA: https://qtc.ecra.club/2021/05/contato-DSTAR-700km-em-uhf.html.html
- Mapas de propagação Troposferica (muito bom): https://www.dxinfocentre.com/tropo_sam.html
- Informações sobre Inversão Térmica: https://www.todamateria.com.br/inversao-termica/
- Radioamador e o Clima Espacial (VHF e UHF a partir do slide 17): http://www2.inpe.br/climaespacial/workshop2015usuarios/docs/EdsonWorkshop.pdf
- Site de DX VHF, Brazil e America Sul: http://www.vhfdx.org/
2 comments
Qual o contato de mais longa distância em UHF ponto a ponto
Não há limite preestabelecido. Desde que um lado “enxergue” o outro, ou seja, haja linha de visada, o contato é possível. E, mesmo sem ter visada, em algumas circunstâncias o sinal pode ser refletido ou refratado e atingir distâncias maiores. Porém, fica cada vez mais difícil à medida que subimos a frequência.