O radioamadorismo nasceu no século XX, época possivelmente mais conturbada politicamente da História. Embora os primeiros experimentadores das ondas hertzianas já aparecessem no início do século, foi na década de 1920 que o radioamadorismo passou a ser reconhecido internacionalmente com a criação da IARU, União Internacional de Radioamadores.
Inúmeros conflitos surgiram ao longo do século passado e alguns de seus efeitos são sentidos até hoje, em nossos dias. Como nunca antes ocorreu na história da humanidade, estivemos muito próximos de uma aniquilação total da raça humana, e se não fosse pelo bom senso daqueles incumbidos das difíceis decisões que permearam aquelas tristes ocasiões, hoje não estaríamos aqui, lendo ou ouvindo este QTC.
Enquanto tudo isso acontecia no mundo, o radioamadorismo permaneceu firme em seus princípios, atraindo pessoas dos mais diversos estratos sociais, políticos, ideológicos e religiosos num ambiente aonde estas ideias, importantíssimas e definidoras de suas próprias personalidades, eram simplesmente deixadas de lado em nome do prazer indescritível de ouvir uma voz de uma pessoa desconhecida surgindo em meio ao ruído radioelétrico.
Naquele momento mágico da troca de indicativos, saber de qual país vinha aquela voz evocava tão somente a alegria em “conquistar” aquela entidade para sua coleção, caso fosse uma “figurinha”. Ou, quem sabe, marcava o início de uma bela amizade entre desconhecidos que, naquele momento, poderiam até estar em lados opostos da “arena” vigente na ocasião do contato. Porém, no ambiente “etéreo”, tratavam-se sempre com o maior respeito e fraternidade.
Hoje, em pleno primeiro quarto do primeiro século do segundo milênio da Era Comum, mais uma vez uma parte da humanidade está em guerra. Alguns, pelas vias de fato, e outros, por outras vias, menos letais, mas igualmente incivilizadas. E, mais uma vez, o radioamadorismo permanece como um ambiente no qual as pessoas de boa vontade podem espalhar a paz e a harmonia, e neste processo, também efetivamente ajudar aos que precisam naquilo que sabemos fazer melhor: a radiocomunicação.
A LABRE, representante de todos os radioamadores brasileiros na IARU, União Internacional de Radioamadores, e diante de tristes decisões tomadas por outras entidades representativas, permanecerá firme aos princípios que forjaram o radioamadorismo em seu âmago, seguindo integralmente a declaração publicada em 28/02/2022:
“A IARU é uma organização apolítica dedicada à promoção e defesa do radioamadorismo e dos serviços exercidos pelos radioamadores. O serviço de radioamador tem por base a autoinstrução nas comunicações e a amizade entre as pessoas.” Fonte: https://www.iaru.org/2022/statement-from-iaru/
A LABRE, portanto, permanecerá neutra, embora preocupada com os desdobramentos e sobretudo lamentando profundamente as perdas humanas no conflito recente na região da Ucrânia. Em meio a tantas posições extremadas, apelamos ao mesmo bom senso que citamos no primeiro parágrafo deste texto. No rádio, somos todos amigos e irmãos.
O radioamadorismo sobreviveu ao conturbado século XX promovendo a paz e a união entre todos os povos e nações. Não vamos deixar que nada abale este princípio.
2 comments
Muito bem colocado. Não podemos deixar o radioamadorismo ser contaminado pelas disputas políticas. Os cidadãos comuns são sempre os mais afetados pelas decisões dos governantes e puni-los por isso é injusto e uma tremenda maldade.
Muitos criticam sem conhecer, e vivem uma vida inteira sem separar a realidade da sua própria ignorância; não dá para generalizar, mas é muito mais fácil repassar algo que viralizou na internet para posar de ‘antenado’ do que PENSAR POR SI MESMO, algo muito em falta. Se você não o fizer, alguém irá pensar por você, mas as consequências disso serão inteiramente suas. Como ouvi recentemente, “para o indivíduo a vida é o bem mais precioso; na guerra, é o ativo mais barato” (in https://m.youtube.com/watch?v=FmdDVStxVys)